A busca pela simplicidade e redução da carga cognitiva no Design UX

A experiência do utilizador é moldada pela forma como cada elemento visual, cada interação e cada decisão de design influenciam a perceção e compreensão da interface. As interfaces gráficas não se limitam a executar tarefas e/ou funções operativas, sendo o meio para os utilizadores explorarem, processarem e assimilarem informação através de processos cognitivos e emocionais (Van Gorp & Adams, 2012).

Maria Callapez
Set 16 2025 • 6 min leitura
A busca pela simplicidade e redução da carga cognitiva no Design UX

No contexto do web design, as emoções desempenham um papel fundamental na forma como os utilizadores percecionam e interagem com interfaces digitais. Os websites evocam respostas emocionais e sociais complexas que influenciam a atenção, a memória e a tomada de decisões (Van Gorp & Adams, 2012, p.16). Estas respostas permitem-nos atribuir significado às experiências digitais, afetando a forma como nos relacionamos com os produtos e serviços. Assim, todo o design é, inevitavelmente, um design emocional (Van Gorp & Adams, 2012, p.16).

A compreensão destas dinâmicas cognitivas e emocionais é essencial para criar interfaces que reduzam a sobrecarga cognitiva. O excesso de elementos gráficos e de informações desorganizadas, sem hierarquia, relações entre itens, padrões, consistência e coerência, aumenta significativamente a carga cognitiva do utilizador. No livro As Leis da Simplicidade (Maeda, 2006), o autor salienta que simplificar não é apenas remover conteúdos, mas sim estruturar a informação de modo a tornar a experiência do utilizador mais clara e significativa. Para este autor, a simplicidade resulta de um equilíbrio entre redução e organização, sendo alcançada quando se “subtrai o óbvio e adiciona o significativo” (Maeda, 2006, p.89).

John Maeda sintetiza dez leis e três chaves para simplificar e diminuir a carga cognitiva, sem perder funcionalidade e usabilidade. Estas são:

Lei 1. Reduzir: A simplicidade nasce da remoção cuidadosa do que é supérfluo.
Lei 2. Organizar: A clareza aumenta quando a informação é estruturada em grupos ou hierarquias.
Lei 3. Tempo: A simplicidade também se mede pela perceção de rapidez – interfaces mais eficientes parecem mais simples.
Lei 4. Aprender: O conhecimento torna tudo mais simples.
Lei 5. Diferenças: A simplicidade destaca-se quando existe contraste; nem tudo deve ser reduzido ao mínimo.
Lei 6. Contexto: O que está na periferia da simplicidade não é, definitivamente, periférico.
Lei 7. Emoção: Mais emoções são melhores do que menos.
Lei 8. Confiança: Na simplicidade confiamos.
Lei 9. Falha: A simplicidade absoluta é inalcançável; o equilíbrio entre simplicidade e complexidade deve ser continuamente negociado.
Lei 10. A única: A simplicidade consiste em subtrair o óbvio e acrescentar o significativo.

Chave 1. Longe: Mais parece menos quando simplesmente se desloca para muito longe.
Chave 2. Aberto: A abertura simplifica a complexidade.
Chave 3. Poder: Use menos, ganhe mais.
(Maeda, 2006, p.5).

Na prática, esta perspetiva traduz-se em princípios aplicáveis ao design de interfaces, que visam diminuir a carga cognitiva e aumentar a clareza da interface. Estes incluem: (1) reduzir o número de opções apresentadas ao utilizador, evitando a chamada paralisia por escolha, bem como, elementos redundantes; (2) agrupar conteúdos semelhantes de forma hierárquica e consistente, facilitando a perceção de relações entre elementos (princípios da Gestalt - proximidade, semelhança, continuidade, experiência prévia, entre outros); (3) utilizar contrastes visuais e tipográficos para orientar a atenção; e (4) recorrer a padrões de interação já familiares, de modo a não exigir um esforço adicional de aprendizagem (Smashing Magazine, 2012). Estas práticas não só simplificam a experiência, como aumentam a confiança do utilizador, permitindo que este se foque no mais relevante e atribua significado à sua interação.

Esta abordagem é complementada pelas orientações de Van Gorp e Adams (2012), no livro Design for Emotion, onde os autores reforçam: (1) a importância de como uma navegação clara - onde o utilizador sabe onde está, para onde pode ir e de onde veio; (2) feedback imediato - como links, botões e menus; (3) reduzir distrações - identificar e diminuir distrações que provavelmente vão interferir com o fluxo; e (4) equilibrar a perceção do desafio com os níveis de habilidade do utilizador - aferir a complexidade do design visual com o número de tarefas e recursos que as pessoas podem utilizar (ex: permitir ao utilizador aumentar ou diminuir a quantidade de detalhes apresentados).

Estas regras e guias não apenas reduzem a carga cognitiva, como reforçam a clareza e a fluidez da experiência. Neste sentido, a usabilidade não depende apenas do aspeto gráfico, mas também da forma como o design apoia os processos mentais do utilizador ao longo da interação.

Em síntese, a simplicidade no design UX não significa retirar profundidade e valor às interfaces, mas antes criar percursos cognitivos e emocionais claros, que permitam ao utilizador focar-se no essencial e garantindo a usabilidade. A redução da carga cognitiva, quando aliada a um design emocionalmente significativo, proporciona, assim, experiências mais claras, eficazes e envolventes.

"Qual é a coisa mais importante que devo fazer se quero garantir que o meu site ou aplicação seja fácil de utilizar?"

A resposta é simples. Não é "Nada de importante deve estar a mais de dois cliques de distância" ou "Fale a língua do utilizador" ou "Seja consistente".

É...

"Não me faça pensar!"
(Krug, 2014, p.21)

Referências bibliográficas

Krug, S. (2014). Don't make me think, revisited: A common sense approach to web usability (3ª ed.). New Riders.

Johnson, J. (2010). Designing with the mind in mind: A simple guide to understanding user interface design guidelines (2nd ed.). Morgan Kaufmann.

Smashing Magazine (2012). Psychology of web design. Smashing Media.

Sweller, J., Ayres, P., & Kalyuga, S. (2011). Cognitive load theory. Springer.

Van Gorp, T., & Adams, E. (2012). Design for emotion. Elsevier.

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