The Interview Diaries: 10 perguntas com o Nuno

Hoje damos palco a quem, normalmente, prefere os bastidores. No The Interview Diaries desta semana, é a vez de conhecermos melhor o nosso CTO e fundador, Nuno Portela. Calmo, discreto e com um talento natural para resolver qualquer problema, seja de código, logística de escritório ou jardinagem, o Nuno é aquele tipo de pessoa que tanto constrói software de raiz como faz os renders 3D da disposição do novo escritório.

Maria Reis da Cunha
Jul 23 2025 • 10 min leitura
The Interview Diaries: 10 perguntas com o Nuno

Na Softway, já ninguém estranha ver o Nuno com uma tesoura da poda na mão, a instalar mini painéis solares para o sistema de rega das nossas plantas ou a furar uma parede e a levantar o chão para fazer uma “puxada de água”. Porque sim, o Nuno resolve qualquer problema.

Filho de artistas e neto de um dos pioneiros da inteligência artificial em Portugal, herdou o lado técnico e o lado humano em doses generosas. Fundou a Softway com espírito visionário e uma crença inabalável de que tudo é possível, desde que se pense bem, claro.

Nesta entrevista, fala-nos de música, das suas incursões na química molecular e partilha conselhos de vida que vieram diretamente do seu avô... e ficaram para sempre. Vamos conhecê-lo?

  1. Se pudesses trocar de cargo com alguém na Softway por um dia, quem seria e porquê?
    Não sei se trocava com alguém. Confesso que às vezes tenho saudades da fase inicial da folha em branco, de estar a desenvolver ou a resolver problemas a partir do zero, do nada. Mas, na realidade, hoje em dia tenho uma equipa mais rápida e mais ágil (e mais nova também) do que eu a fazer isso. Agora gosto mais de estar no "overall" dos problemas maiores e mais estratégicos. No fundo, estar focado em manter a máquina a funcionar e a andar para a frente.
  2. Imagina que de repente te davam a oportunidade de seres um perito em qualquer área, qual seria e porquê?
    É muito difícil especificar ou escolher uma área, porque todos os temas que me interessam acabo por procurar a especialização ao máximo e explorá-los até quase ao limite. Quando algo me desperta interesse, vou ler, estudar e aprender tudo o que consigo. Vou até quase ao limite dos temas, até esgotar e me deixar de me interessar. Já fiz isso com a fotografia, por exemplo: aprendi desde a parte técnica, luzes, etc., até à componente mais artística. Quando sinto que já não há muito mais para aprender, posso deixar de me interessar, mas o conhecimento fica lá.
    Maria: Tens quase que um Hiper foco, então?
    Sim. Aconteceu-me o mesmo com culinária. Comecei a ler sobre química molecular, depois passou para muitas experiências culinárias com o meu filho. Desde esparguete de meloa até azeitonas que explodem na boca. Depois escolhia um prato e especializava-me nele até chegar à sua melhor versão.
    O único tema em que sinto que ainda estou longe de atingir alguma perícia, e talvez nunca consiga “esgotar”, é a música. Talvez aí gostasse mesmo de ser perito. Mas sinto que não tenho os requisitos certos (não tenho ouvido absoluto, por exemplo), admiro imenso quem tem essas competências e aptidões naturais.
  3. Se pudesses ter um superpoder qual seria e como é que o usarias?
    Desde pequenino que digo que gostava de poder parar o tempo, para todos menos para mim. Assim, conseguia continuar a viver e a fazer as minhas coisas, enquanto tudo o resto estava em pausa. Teria mais tempo do que os outros. Principalmente para resolver problemas.
  4. Qual é o teu livro, filme ou música que adoras e que nunca te cansas de recomendar?
    Normalmente só faço recomendações consoante quem me pergunta, depende sempre da pessoa que está a perguntar. Mas, em termos gerais, e falando de livros, tenho tendência a ler mais livros técnicos, daqueles que têm conhecimento específico para extrair. Não sou muito fã de romances ou ficção. Gosto de saber onde acaba o facto e começa a ficção.
    Um livro que me marcou muito foi The Goal, do Eliyahu Goldratt. É um romance que segue a história de um homem que trabalha numa fábrica e tenta melhorar todo o funcionamento e tornar os processos mais eficazes. É engraçado porque baseia-se em conceitos que parecem contraintuitivos, mas é um olhar interessante e diferente, especialmente para quem está em cargos de liderança.
    Outro que recomendo é The Innovator’s Dilemma, do Clayton Christensen. Explica porque é que empresas que parecem estar a fazer tudo bem (como a Kodak, Nokia ou a IBM) acabam por perder a liderança no mercado. Tenho de o ir reler, aliás. É uma leitura muito relevante hoje, com o boom da IA e tantas inovações a acontecer. Ajuda a perceber como tomar decisões estratégicas e que impacto podem ter, seja como uma empresa incumbente com 20 anos no mercado ou numa start-up inovadora que pode mudar tudo e vir a “destronar” algumas empresas incumbentes.
  5. Qual foi o melhor conselho que recebeste até hoje, e quem foi que to deu?
    Foi talvez do meu avô. Era uma pessoa muito sábia, um professor catedrático no IST e um dos primeiros a falar de IA em Portugal, fundou as primeiras cadeiras sobre o tema.
    Deu-me um conselho muito engraçado que nunca esqueci: Temos de saber encarar a vida como uma maratona. Ou seja, saber gerir o ritmo, quando andar devagar a passo, quando acelerar. Se começares com um sprint, vais ficar logo esgotado e não chegas ao fim da corrida, ou chegas em último. Na verdade, tens de saber ouvir-te a ti próprio e aprender a gerir. É indiferente se os outros te ultrapassam na partida, o que interessa é ter fôlego para recuperar nas alturas certas. Encarar a vida como uma corrida de fundo é pensar a longo prazo e não estar sempre à procura do imediato. Até porque o imediato é efémero.
  6. Qual foi a coisa mais aventureira que já fizeste ou gostarias de fazer no futuro?
    Não sou muito de aventuras como saltar de paraquedas ou fazer bungee jumping. Se tivesse de o fazer, não teria problema nenhum, e talvez por isso mesmo sinta que não me traria grande emoção.
    Maria: Fundar a softway, talvez?
    Sim, acho que foi na altura certa, era muito novo, não tinha muito a perder. Mas a decisão mais aventureira foi talvez tornar a Softway independente. No início, tínhamos outra empresa como sócia (e que foi essencial no arranque da Softway). Mas numa altura crítica, percebi que os caminhos estavam a divergir e que estávamos com propósitos diferentes. Decidi que queria tornar-me independente dos sócios iniciais. Foi um “vai ou racha”, uma decisão de instinto e arriscada, mas totalmente alinhada com aquilo em que acreditava. Se calhar por ser tão novo, acabou por ser uma daquelas “aventuras” que me marcaram.
  7. Qual é o teu cheiro preferido e o que é que ele te faz lembrar?
    Não sei se é o meu preferido, mas no outro dia senti um cheiro que me fez lembrar a minha infância, o cheiro a pinhal, a caruma no chão no verão. Fez-me lembrar as férias em casa da minha avó, quando era miúdo, na Praia Grande e na Praia das Maçãs, onde passava os dias a brincar no pinhal.
  8. Se pudesses jantar com qualquer figura histórica (viva ou morta), quem seria e porquê?
    Gostava muito de jantar com o Richard Feynman, físico norte-americano que morreu há algumas décadas. Gosto muito de estudar física, li muito sobre ele e é uma pessoa que idolatro quase. Ganhou o Nobel pelo seu trabalho em eletrodinâmica quântica e pelos seus diagramas, ajudou a determinar as causas da explosão da nave Challenger e adorava tocar tambores. Acima de tudo admiro imenso o trabalho dele, as suas aulas (vale a pena procurá-las no youtube), o que deixou escrito e a capacidade de pegar em temas muitíssimo complexos e torná-los extremamente fáceis de compreender.
  9. Se a tua vida tivesse uma banda sonora, quais seriam as três músicas que fariam parte dela?
    Não consigo dizer três músicas específicas. Gosto de todo o tipo de música e estou sempre à procura de novos artistas menos conhecidos. Procuro encontrar o artista que potencialmente se vai tornar numa estrela, mas ainda enquanto não o é. A Billie Eilish é um bom exemplo, comecei a ouvir há anos no YouTube, muito antes de ser tão conhecida. Outro por exemplo, é a banda sonora do Hamilton, que também andou a tocar em loop no meu carro e que "obriguei" os meus filhos e sobrinhos a ouvir, muito antes de se tornar o fenómeno global que é hoje.
    Ultimamente tenho ouvido muito a música da Raye, do Cory Henry, Sofiane Parmat (música clássica), do Keith Jarret (jazz)... mas não sou capaz de reduzir a três músicas específicas.
  10. Qual foi o trabalho mais invulgar ou interessante que tiveste antes de criares a Softway?
    Enquanto estudava, estive no INESC a desenvolver software para discos rígidos da Seagate e de algumas marcas norte-americanas. Depois trabalhei numa empresa de domótica, que era uma área que me fascinava, e na verdade era o que eu realmente gostava de fazer. Na altura, não havia ainda tecnologia suficientemente desenvolvida para ser facilmente aplicada no contexto das casas inteligentes, por isso o foco era mais industrial, nos processos de automação das fábricas.
    Só agora é que a domótica se está a tornar mais acessível. A minha casa, por exemplo, está toda automatizada, das luzes ao ar condicionado… Mas continua a ser desafiante, porque tens de encontrar soluções onde a automação coexista com o uso tradicional. É preciso manter interruptores que funcionem para quem não usa a app das luzes lá em casa...
  11. Pergunta bónus, porque curiosidades sobre o chefe nunca são demais:
    Tens algum talento escondido que do qual ninguém na Softway saiba?
    Não sei se tenho algum talento que não conheçam. Não sei fazer malabarismo nem a espargata.
    Maria: Então vamos a outra pergunta. O que é que gostas de fazer para relaxar depois de um dia de trabalho?
    Tocar piano.
    Maria: Ah! Não fazia ideia que tocavas piano!!!
    Estás a ver... afinal tenho um talento escondido e não sabia. Sim, o que me relaxa totalmente na vida é sentar-me ao piano e estar horas a tocar.

Com uma abordagem serena e uma mente inquieta, o Nuno observa antes de agir e resolve antes que alguém perceba que há um problema. Lembra-nos diariamente que a verdadeira inovação nem sempre vem do sprint, mas da visão de quem sabe correr uma maratona.
Mais do que fundador ou CTO, o é o motor da Softway: aquele que, com calma e precisão, garante que a máquina não só continua a funcionar, mas a evoluir na direção certa.

 

Atenção, o seu browser está desactualizado.
Para ter uma boa experiência de navegação recomendamos que utilize uma versão actualizada do Chrome, Firefox, Safari, Opera ou Internet Explorer.